Dra. Lívia Machado – Alergologia e Imunologia

Alergias alimentares são reações exageradas do sistema de defesa (imunológico) contra proteínas presentes em um alimento (alérgeno).  As manifestações podem ocorrer em minutos, horas ou dias após a ingestão do alimento e têm apresentação clínica muito variável cujos sintomas podem surgir tanto na pele, como no sistema gastrointestinal e respiratório.

Reações a toxinas de alimentos ou secundárias a deficiências de enzimas responsáveis pelos processos digestivos, como a intolerância à lactose, podem se apresentar de maneira semelhante às alergias, porém seu diagnóstico, tratamento e história natural são bem diferentes

INCIDÊNCIA E ETIOLOGIA

Estima-se que as reações alimentares de causas alérgicas acometam 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2% a 3% dos adultos. Os pacientes com doenças alérgicas apresentam uma maior incidência de alergia alimentar, sendo encontrada em 38% das crianças com dermatite atópica moderada a grave e em 5% das crianças com quadro de asma moderada.

A predisposição genética, a potência antigênica de alguns alimentos e alterações no intestino são fatores relacionados ao desenvolvimento de alergia alimentar. Estudos indicam que de 50% a 70% dos pacientes com alergia alimentar possuem história familiar de alergia. Se o pai e a mãe apresentam alergia, a probabilidade de terem filhos alérgicos é de 75%.

ALIMENTOS MAIS ENVOLVIDOS EM ALERGIAS ALIMENTARES

Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No entanto, leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim e castanhas, peixe e crustáceos são os mais envolvidos. O amendoim, os crustáceos, o leite de vaca e as nozes são os alimentos que provocam reações graves (anafilaxia) com maior frequência.

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é o tipo de alergia alimentar mais comum na infância.

De acordo com a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN, 2012):

– 2 a 3% das crianças < 3 anos têm APLV

– 0,5% em bebês amamentados exclusivamente possuem APLV

– < 1% das crianças > 6 anos possuem APLV

Por outro lado, cacau, corantes e carne de porco são alimentos menos alergênicos do que se acreditava.

Além disso, os alimentos podem provocar reações cruzadas, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo indivíduo. O paciente alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos. Da mesma forma, pacientes alérgicos à castanha de caju têm maior chance de reagir ao pistache.

SINTOMAS DA ALERGIA ALIMENTAR

Os sintomas variam de acordo com o mecanismo imunológico responsável pela alergia, a saber:

  1. Mediadas por imunoglobulina E (IgE): reações imediatas (segundos até cerca de 2 horas após a ingestão). Podem acometer a pele (urticárias, manchas avermelhadas, inchaço de olhos e boca), sistema respiratório (sintomas nasais, broncoespasmo abrupto), gastrintestinais (diarreia e/ou vômitos imediatos) ou sistêmicos (anafilaxia). Geralmente são reações mais graves, às vezes com potencial com risco de morte.
  2. Não mediadas por IgE: acometem principalmente o trato gastrintestinal (doença do refluxo gastresofágico, diarreia, vômitos, muco e/ou sangue nas fezes, podendo culminar em prejuízos no ganho de peso e estatura). As reações são tardias, dias ou semanas após a ingesta do alimento e geralmente associadas a múltiplos alimentos.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico depende de história clínica minuciosa associada a dados de exame físico, que podem ser complementados por testes alérgicos, como a dosagem da IgE específica, o teste cutâneo, o prick to prick (usa-se o próprio alimento ao invés do extrato) e o teste de provocação oral, padrão ouro para diagnóstico em alergia alimentar.

A suspeita inicial de alergia alimentar acontece quando o paciente apresenta sintomas compatíveis com alergia por ocasião da ingestão/contato com um determinado alimento e os sintomas devem ocorrer sempre que houver a ingestão ou contato com aquele alimento.

Na história clínica, é fundamental que sejam fornecidos detalhes sobre os alimentos ingeridos rotineiramente ou eventualmente. Em algumas situações, é possível associar tempo entre a ingesta do alimento e o surgimento dos sintomas. Em outras, o quadro não é tão evidente e precisa-se de uma anamnese mais detalhada. Isso ocorre principalmente quando as reações aparecem horas após a ingestão do alérgeno.

CONHEÇA A DRª LÍVIA MACHADO

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Graduação em medicina pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE, residência médica em pediatria pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS e residência médica em ALERGIA E IMUNOLOGIA NO HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA, tendo realizado estágios no HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FMUSP e ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA na área de Alergia e Imunologia, consolidando sua prática clínica nesta área.

o É ESPECIALISTA EM ALERGIA E IMUNOLOGIA
pela Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI) desde 2017, quando foi aprovada na prova de título da especialidade

o
Mais de 10 anos de experiência em Alergia e Imunologia, proporcionando um atendimento acolhedor e personalizado para cada família e direcionado para melhoria da qualidade de vida.

o Consulta com cuidado e empatia, direcionada para a resolução do problema do paciente e baseada nos protocolos mais atuais em alergia e imunologia.

o O diferencial da Drª Lívia é o vasto conhecimento adquirido nas patologias alérgicas e imunológicas, aliado a uma experiência com pacientes internados em terapia intensiva pediátrica e ambulatoriais.

O QUE DIZEM OS PACIENTES

TRATAMENTO

Uma vez diagnosticada a alergia alimentar, são utilizados medicamentos específicos para o tratamento dos sintomas, sendo de extrema importância fornecer orientações ao paciente e familiares para que se evite novos contatos com o alimento desencadeante (dieta de exclusão).

O paciente deve estar sempre atento e verificando o rótulo dos alimentos industrializados com objetivo identificar nomes relacionados ao alimento que lhe desencadeou a alergia. Por exemplo, a presença de manteiga, soro, lactoalbumina ou caseinato apontam para a presença de leite de vaca.

As reações leves/moderadas geralmente desaparecem espontaneamente ou respondem aos anti-histamínicos (antialérgicos) associados ou não aos corticoides. Mas, os pacientes com história de reações graves devem portar um plano de ação fornecido pelo médico alergista.

Todos os pacientes com história de alergia alimentar devem ser orientados a portar adrenalina auto-injetável.

PREVENÇÃO DA ALERGIA ALIMENTAR

Atualmente, recomenda-se a exposição oportuna dos pacientes aos principais alérgenos no momento da introdução de alimentação complementar aos seis meses, medida que parece proteger das alergias alimentares. O aleitamento materno deve ser sempre estimulado. Os pacientes de alto risco para desenvolver alergia alimentar (pacientes com dermatite atópica moderada a grave, alergia alimentar ou filhos/irmãos de indivíduos com doenças alérgicas) também devem ser expostos a todos os alimentos aos seis meses sem necessitar adiar a introdução de alguns alimentos como forma de prevenção.

O benefício do uso de fórmulas infantis conhecidas como hipoalérgicas para recém-nascidos que não podem ser amamentados ao seio não está bem estabelecido.

QUAIS OS LEITES UTILIZADOS PARA SUBSTITUIÇÃO NO CASO DE ALERGIA AO LEITE DE VACA?

O leite materno deve ser sempre estimulado como primeira opção.

Quando a criança mantém sintomas decorrentes do leite ingerido pela mãe, esta deve ser submetida a dieta isenta de leite e derivados e a amamentação deve permanecer.

Se ainda assim os sintomas persistirem ou na impossibilidade de manter a amamentação, fórmulas especiais devem ser introduzidas. Estas fórmulas são nutricionalmente adequadas e compostas por proteínas de tamanhos reduzidos (fórmulas extensamente hidrolisadas) ou somente por aminoácidos.

A determinação do tipo de fórmula a ser utilizada depende da natureza dos sintomas, idade da criança e condição nutricional. As fórmulas de soja podem ser utilizadas em crianças maiores de seis meses com reações imediatas (mediadas por IgE) e sem comprometimento do trato gastrointestinal.

Leite de outros mamíferos (cabra, ovelha, búfala…) não devem ser usadas pela semelhança com a proteína do leite de vaca. Bebidas à base de arroz, aveia, quinoa, dentre outras, não devem ser priorizadas pelo pobre valor nutricional.

AS ALERGIAS ALIMENTARES DURAM PARA SEMPRE?

As características de cada alérgeno são distintas e por isso a duração das alergias varia de acordo com o alimento em questão. Alergias que se iniciam mais comumente na infância (leite, ovo, soja, trigo) apresentam maior probabilidade de se resolver até a adolescência devido ao mecanismo de tolerância oral.

Outros alimentos, como amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar, são tipicamente persistentes e apenas uma ínfima parcela dos pacientes remitem suas alergias.

Não se deve introduzir alimentos aos alérgicos sem avaliação do especialista, pois a ocorrência de reações alérgicas graves é imprevisível

LEITURA DOS RÓTULOS

As informações contidas nos rótulos dos produtos podem orientar o consumidor se as substâncias presentes naquele determinado alimento podem ou não ser consumidas.

 A leitura de rótulos é importante para quem quer uma vida mais saudável e sustentável. Também é importante para quem tem restrições alimentares, como os alérgicos.

A lista a seguir apresenta alimentos e ingredientes que não devem ser consumidos por pacientes com APLV:

– Leite: integral, semidesnatado, desnatado, com ou sem lactose, em pó, condensado, evaporado, maltado, desidratado, fermentado, etc…

– Leite de qualquer outro animal: cabra, ovelha, etc…

– Lactoalbumina, lactoglobulina, fosfato de lactoalbumina

– Lactato, lactoferrina

– Caseína, caseína hidratada, caseinato (de cálcio, de potássio, de amônia, de sodio)

– Chantilly (pode conter caseinato)

– Creme de leite, coalhada, iogurtes a base de leite

– Leitelho, nata, nougat, soro de leite

– Soro de leite deslactosado/desmineralizado

– Gordura de leite, proteína láctea

– Proteína de leite hidrolisada, whey protein (proteína do soro do leite em inglês)

– Fermento lácteo, gordura/óleo/éster de manteiga

– Manteiga, margarina que contenha leite, ghee (manteiga indiana)

– Doce de leite, queijos a base de leite, requeijão, traço de leite

Podem conter proteína do leite:

– Embutidos, batatas chips e salgadinhos

– Sopas instantâneas, chocolate e achocolatados

– Pães e bolos, sorvete, massas

A lista a seguir apresenta alimentos e ingredientes que não devem ser consumidos por pacientes com Alergia ao ovo.

– Albumina, clara (egg white), conalbumina

– Flavoproteína, fosvitina, gema (egg yolk)

– Ovoglobulina, sólidos de ovo, ovotransferrina

– Globulina, grânulo, lipoproteína de baixa densidade

– Lecitina, livetina, lipovitelina

– Lisozima (E1 105), ovomucina, ovomucoide

– Vitelina, ovoalbumina, ovovitelina

– Ovoglicoproteína, plasma, maionese

– Simplesse, gemada, merengue

– Suspiro, marshmallow, suflê

– Molhos que contém ovo

Produtos que podem conter ovo em sua composição:

– Biscoitos e bolachas, macarrão

– Achocolatados, pães

– Frios e embutidos

– Pudim, bolos e tortas

– Chocolate

Aqui apresento alimentos e ingredientes que não devem ser consumidos por pacientes com Alergia a Soja.

– Edamame, conglicina, glicinina

– Globulinas, gordura vegetal, inibidor de tripsina

– Isoflavonas, isoflavina, lecitina

– Lipoxigenase, hemaglutinina, PIS (Proteína isolada de soja)

– PTS (Proteína texturizada de soja)

– PVT (Proteína vegetal texturizada)

– Tofu, extrato de soja, condimento de soja

– Traços de soja, urease, yuba

– Beta-amilase, molho de soja (Shoyu), missô

Produtos que podem conter soja em sua composição

– Biscoitos e bolachas

– Sorvetes, bolos e tortas

– Achocolatados, pães

– Frios e embutidos

– Traços de soja em produtos ensacados, como farináceos e grãos

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