A asma, também conhecida como “bronquite asmática” ou como “bronquite alérgica”, é uma doença que acomete os pulmões, acompanhada de uma inflamação crônica dos brônquios (tubos que levam o ar para dentro dos pulmões).
Caracteriza-se por um processo que afeta todo o organismo e não somente as vias aéreas inferiores, desencadeando o aumento da produção de secreções e prejudicando a passagem de ar.
Esse processo é chamado broncoespasmo, que é o estreitamento da luz brônquica devido a contração dos músculos dos brônquios, sendo caracterizado clinicamente por dificuldade para respirar, chiado no peito, tosse e sensação de aperto no peito.
Por motivos ainda não bem esclarecidos, os pacientes com asma desenvolvem um processo inflamatório crônico nas suas vias respiratórias pequenas. Esta inflamação faz com que o asmático seja uma pessoa com um pulmão extremamente sensível.

IMPACTO DA DOENÇA AO SISTEMA DE SAÚDE
A asma é uma das doenças crônicas mais comuns que afeta tanto crianças quanto adultos, sendo um problema mundial de saúde e acometendo cerca de 300 milhões de pessoas. Estima-se que no Brasil existem aproximadamente 20 milhões de asmáticos.
Segundo o DATASUS, o banco de dados do Sistema Único de Saúde ligado ao Ministério da Saúde, a asma é a terceira ou quarta causa de hospitalizações pelo SUS (2,3% do total), conforme o grupo etário considerado.
Com a melhor compreensão da doença por parte dos portadores e a distribuição de medicamentos para os pacientes asmáticos graves, vem-se observando uma queda no número de internações e mortes por asma no Brasil. Em uma década, o número de internações por asma no Brasil caiu 49%.
SINTOMAS
Os mais comuns são:
– Falta de ar (dispneia);
– Tosse persistente
– Chiado no peito.
A tosse – às vezes, o único sintoma da asma, principalmente em crianças, geralmente piora à noite. Ela também pode se agravar e, nesse caso, até ser seguida de vômito, após atividades físicas mais intensas ou no caso de alguma infecção.
Esses sintomas variam durante o dia, podendo piorar à noite ou de madrugada e com as atividades físicas. Os sintomas também variam bastante ao longo do tempo. Às vezes desaparecem sozinhos, mas a asma continua lá, uma vez que não tem cura.
A asma costuma ser classificada como intermitente, persistente leve, persistente moderada ou persistente grave. Clinicamente, cada classe costuma ter as seguintes características:
Na asma intermitente, as crises surgem com uma frequência menor que 2 dias por semana, o paciente acorda menos do que 2 noites por mês com crises, a medicação de alívio com broncodilatador só é necessária em menos de 2 dias por semana e a asma não costuma influenciar nas atividades do dia a dia.
Na asma persistente leve, as crises de asma surgem com uma frequência maior que 2 dias por semana, o paciente acorda pelo menos 3 a 4 noites por mês com crises, o broncodilatador é necessário em mais de 2 dias por semana (não mais do que 1 vez por dia) e a asma pode causar leves limitações nas atividades do dia a dia.
Na asma persistente moderada, as crises de asma surgem diariamente, o paciente acorda mais de 1 vez por semana com crises, a medicação de alívio com broncodilatador é necessária diariamente e a asma pode causar limitações nas atividades do dia a dia.
Na asma persistente grave, as crises de asma surgem diariamente, mais de uma vez por dia, o paciente acorda todas as noites com crises, a medicação de alívio com broncodilatador é necessária várias vezes por dia e a asma pode causar grave limitações nas atividades do dia a dia.

DIAGNÓSTICO
É feito pela história que o paciente conta para o médico e por observações durante o exame clínico, tais como: chiado, tórax exageradamente cheio de ar, presença de rinite alérgica (espirros repetidos, nariz escorrendo, entupimento e coceira do nariz) e existência de familiares com doenças alérgicas e asma.
É importante contar sobre o horário em que os sintomas ocorrem, pois, geralmente, nos asmáticos existe uma piora durante a madrugada e ao acordar. Também é importante falar se esses desconfortos melhoram usando algum remédio ou espontaneamente.
Para comprovar a obstrução das vias aéreas usa-se métodos como a medida do fluxo expiratório máximo e a espirometria (também conhecida como prova de função pulmonar), ela é realizada com um aparelho chamado espirômetro, que mede o volume de ar inspirado e expirado.
O diagnóstico costuma ser particularmente difícil nos lactentes e nos idosos. Nos primeiros, várias doenças além da asma podem apresentar quadro clínico de chiado no peito (inclusive as infecções provocadas por vírus). Nos idosos, a asma pode ser confundida com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e com a insuficiência cardíaca congestiva (ICC).
Nos pequenos, portanto, o pediatra pode optar por indicar uma prova terapêutica caso haja suspeita de asma. Se os sintomas melhorarem com o tratamento para asma, o mais provável é que a criança tenha realmente asma.
Há uma circunstância especial em que a internação hospitalar se torna necessária, pois a crise é grave a ponto de não ser possível controlá-la com as medidas terapêuticas habituais. Em casos extremos, ela pode levar a um quadro de insuficiência respiratória, exigindo o emprego de respiradores artificiais.
Os sinais de gravidade de uma crise de asma incluem:
- Grande esforço para respirar.
- Lábios arroxeados ou azulados.
- Crise de ansiedade.
- Dificuldade para falar.
- Intensa sudorese.
- Nítido uso da musculatura torácica, abdominal ou do pescoço durante a respiração.
- Redução da consciência ou confusão mental.
EXAMES PARA AUXILIAR O DIAGNÓSTICO
Espirometria
A espirometria é um exame realizado para avaliar o quão bem os seus pulmões trabalham. O teste é bem simples. Para fazê-lo, você precisa encher bem os pulmões de ar e depois soprar o mais rapidamente possível em bucal que fica conectado a um computador. O espirômetro avalia duas medidas:
- O volume de ar que você consegue expirar no primeiro segundo de exalação, denominado volume expiratório forçado no primeiro segundo ou FEV1;
- A quantidade total de ar que você consegue expirar, denominada capacidade vital forçada ou CVF.
Feito isso, o médico irá repetir o exame após administrar através de um inalador, uma medicação broncodilatadora, que serve para dilatar as vias aéreas dos pulmões.
Os pacientes com asma costumam apresentar uma relevante melhoria dos resultados da espirometria após uso do broncodilatador, um resultado que não é observado, por exemplo, nos pacientes com bronquite crônica (DPOC).
Pico de fluxo expiratório
O medidor de pico de fluxo expiratório, também chamado medidor de peak flow, é uma forma alternativa e mais simples de avaliar a obstrução das vias aéreas. O resultado obtido pelo medidor peak flow é chamado pico de fluxo expiratório (PFE).
Enquanto na espirometria o paciente precisa assoprar em um bucal que fica ligado a um computador, o medidor de peak flow é um pequeno dispositivo de mão, que você pode ter em casa, e é usado para medir o quão rápido você consegue soprar o ar de seus pulmões em um só fôlego, de forma curta e explosiva.
Assim como na espirometria, os resultados devem ser comparados a valores de referência. Uma melhoria de pelo menos 20% no resultado após uso de broncodilatadores fala fortemente a favor de asma.
Este teste, apesar de mais simples, requer um pouco de prática para ser efetuado corretamente e não fornece resultados tão confiáveis quanto a espirometria. Por isso, ele acaba sendo mais útil no seguimento dos pacientes que já têm o diagnóstico da asma estabelecida.
Como o teste pode ser feito em casa a qualquer momento, ele é útil para avaliar a função pulmonar ao longo do dia. Conhecer o padrão habitual de PFE ajuda o paciente a reconhecer quando a sua asma está piorando.
GATILHOS OU DESENCADEANTES
São fatores que quando o asmático é exposto podem piorar muito a asma ou desencadear sintomas. Os principais gatilhos da asma são:
– ALERGIA: poeira, ácaro, mofo, pólen, fezes de barata, pêlos de animais;
– INFECÇÕES: viroses, como gripes e resfriados, ou ainda as sinusites;
– MUDANÇAS DE TEMPO;
– FUMAÇAS: A fumaça do cigarro, além de aumentar os sintomas também pode aumentar a inflamação dos brônquios;
– POLUIÇÃO;
– CHEIROS FORTES;
– ESFORÇO FÍSICO;
– ASPECTOS EMOCIONAIS;
– EXPOSIÇÃO AO AR FRIO: Ar muito frio e seco pode desencadear sintomas de asma por irritar os brônquios do asmático;
– OUTRAS CAUSAS: alguns tipos de medicamentos, alguns alimentos, refluxo gastroesofágico, causas hormonais, fatores relacionados ao trabalho ou a escola, asma provocada por outras doenças.
A ASMA TEM CURA?
A asma não tem cura. Mesmo se você não tiver nenhum sintoma, a asma está presente. Embora não exista cura, existem tratamentos que melhoram muito os sintomas da asma e proporcionam o controle da doença. Assim, asmáticos tratados podem ter uma qualidade de vida igual a de qualquer pessoa saudável.
TRATAMENTO
Antes de explicar mais sobre tratamento, é importante lembrar que a asma varia de asmático para asmático e varia também ao longo do tempo em um mesmo indivíduo. Por isso, o tratamento da asma deve ser individualizado, isto é, o que serve para um asmático pode não ser o melhor tratamento para outro.
A maioria dos pacientes com asma é tratada com dois tipos de medicação:
(1) medicação chamada profilática ou de manutenção, que serve para prevenir o aparecimento dos sintomas e evitar as crises de asma
(2) medicação de alívio ou de resgate, que serve para aliviar os sintomas quando houver piora da asma.
As medicações profiláticas reduzem a inflamação dos brônquios. Seus principais exemplos são os corticoides inalados isolados ou em associação com uma droga broncodilatadora de ação prolongada. As medicações profiláticas diminuem o risco de crises de asma e evitam a perda futura da capacidade respiratória.
Os medicamentos de manutenção são usados para impedir o surgimento das crises e não devem ser usados durante um processo agudo, mas sim como tratamento de longo prazo, de característica profilática.
Broncodilatadores beta-2 agonistas
Broncodilatadores beta-2 agonistas são drogas que agem relaxando a musculatura dos brônquios, aumentando o seu calibre e facilitando a passagem do ar. Como o mecanismo de obstrução da asma é o broncoespasmo, os broncodilatadores são ótimas opções para reverter os sintomas da doença.
Os beta-2 agonistas, apesar de serem efetivos no combate aos sintomas e terem rápido início de ação, não agem diretamente na causa da asma, que é a inflamação das vias aéreas.
Os broncodilatadores são administrados por via inalatória. Existem os broncodilatadores de ação curta (4 a 6 horas) e os broncodilatadores de longa duração (12 a 24 horas).

Corticoides inalatórios
Os corticoides são drogas derivadas do hormônio cortisol e têm potente efeito anti-inflamatório. Por esse motivo, os corticoides por via inalatória são frequentemente utilizados no tratamento da asma.
Ao contrário de corticosteroides tomados por via oral ou intravenosa, os corticoides por via inalatória têm um risco relativamente baixo de efeitos colaterais e são geralmente seguros para o uso diário e a longo prazo.
Os corticoides inalatórios são frequentemente utilizados em associação com beta-2 agonista de longa duração.

Antileucotrienos
Os antileucotrienos são drogas utilizadas por via oral, em comprimidos ou xarope, que ajudam a abrir as vias aéreas, diminuem a inflamação e reduzem a produção de muco. Eles são menos efetivos que os corticoides, por isso, não costumam ser utilizados sozinhos no tratamento da asma, mas sim como medicação complementar.
Entre as opções disponíveis no mercado, podem citar: montelucaste, zafirlucaste e zileutona.
Imunobiológicos
São medicamentos indicados para o tratamento da asma alérgica que não pode ser controlada com a associação de corticosteroides e beta-2 agonistas..
Novos medicamentos para asma grave
Outros medicamentos recentemente aprovados para asma de difícil controle incluem:
- Anticorpo monoclonal contra IL-5.
- Anticorpo anti-subunidade alfa do receptor de IL-4.
- Linfopoietina estromal antitímica.
Para o sucesso do tratamento, o paciente ou seu cuidador deve identificar os fatores desencadeantes das crises, para tentar evitá-los. Deve seguir corretamente a prescrição médica e reconhecer os períodos de piora, para tentar impedir o agravamento das crises que, quase sempre, são controláveis se detectadas rapidamente.
ASMA NA GESTAÇÃO
Em até um terço das asmáticas grávidas, as manifestações da doença se acentuam ao longo da gestação e do puerpério (período que se inicia logo após o parto). Por isso, o alergista e o obstetra devem trabalhar integradamente, em prol de um tratamento que garanta o máximo de bem-estar à mãe e à criança.
A gestante asmática grave pode apresentar uma piora dos sintomas, especialmente no último trimestre.
É importante saber que a asma não controlada representa mais risco para o feto do que o uso dos medicamentos broncodilatadores ou anti-inflamatórios. Eles devem ser usados sempre, com as mesmas indicações que seriam utilizadas em qualquer caso de asma.
ASMA E EXERCÍCIO FÍSICO
O paciente asmático deve ser estimulado a praticar exercícios, desde que respeite sua tolerância quanto à duração e à intensidade – tudo dependerá da avaliação médica.
Atividades físicas regulares podem tornar mais eficaz a ventilação pulmonar do asmático, aumentando desse modo sua tolerância ao exercício.
Algumas pessoas desenvolvem crises de asma após praticarem atividades físicas. Na verdade, a atividade física pode desencadear uma crise de asma em um paciente já previamente asmático. Portanto, o termo mais correto é broncoespasmo induzido pelo exercício.
Na maioria dos casos, a prática de esforço físico agrava uma asma já existente e sintomática. No entanto, há casos em que o paciente só apresenta crises de asma após atividade física. O esforço é o único gatilho desencadeador de broncoespasmo.
As crises de broncoespasmo costumam surgir 10 a 15 minutos após o início de uma atividade moderada a intensa. Em geral, os sintomas desaparecem após 30 minutos de descanso. Atividades físicas praticadas em ambientes frios aumentam o risco de asma induzida por exercícios.
O uso de broncodilatadores 10 minutos antes da atividade física ajuda a prevenir o broncoespasmo e impede que o paciente se torne sedentário.
PREVENÇÃO
A poeira doméstica é considerada o principal agente desencadeador de alergia e crises asmáticas, por isso o ambiente deve ser o mais higiênico possível, a fim de evitar que a pessoa entre em contato com esses elementos.
É recomendado que não haja fumantes no ambiente domiciliar; animais devem ser mantidos fora de casa, ou no mínimo não entrarem nos quartos de dormir.
– Deixar o ambiente de convívio diário, principalmente o quarto, bem limpo e arejado;
– A limpeza deve ser diária com aspirador de pó (de preferência que tenha o Filtro HEPA) e pano úmido, sem produtos com cheiro forte;
– Não usar vassouras nem espanadores, pois espalham a poeira fina, que ficará em suspensão e voltará a se depositar;
– Retirar tapetes, carpetes, cortinas, almofadas, estantes com livros, enfim, tudo que facilite o acúmulo de pó.
PROGNÓSTICO
A asma é uma doença crônica que, em casos extremos, pode até ameaçar a vida. Mas, habitualmente, consegue-se seu controle com a adoção do tratamento adequado. Assim, o paciente pode se livrar dos sintomas, sobretudo daqueles que causam mais desconforto, a dificuldade respiratória e a tosse.
A asma iniciada na infância pode regredir espontaneamente e não se manifestar por vários anos, ou mesmo pelo resto da vida. Em outras situações, ela melhora na adolescência e retorna na idade adulta com mais intensidade.
CURIOSIDADES
O que são bombinhas?
Bombinha é a maneira que as pessoas chamam as medicações inalatórias usadas no tratamento da asma. Esse nome vem dos primeiros dispositivos que surgiram e ainda existem. Hoje existem dispositivos com medicação na forma líquida (aerossol) e em pó. É preferível usar o termo dispositivo, porque retira a ideia de que o remédio é ruim (bomba).
Bombinhas fazem mal para o coração?
Não. Quando surgiram os primeiros remédios broncodilatadores para asma, eram substâncias que tinham como efeito colateral aceleração do coração (taquicardia). A sensação era bem desconfortável e as pessoas começaram a achar que o remédio atacava o coração.
Com as novas e melhores drogas broncodilatadoras e os novos e melhores dispositivos, esse efeito foi desaparecendo. Algumas pessoas ainda têm a sensação de palpitação, mas quando isso acontece é porque provavelmente estão inalando os remédios com a técnica errada. Ou porque estão usando na dose errada.
O que faz muito mal para o coração é falta de oxigênio. E uma asma não controlada e em crise causa exatamente essa dificuldade de entregar oxigênio para o coração funcionar. Portanto, as medicações inalatórias para controle da asma são – ao contrário – amigas do coração!
Corticoide inalado é perigoso ou faz mal?
Não. Os corticoides inalados são as medicações mais importantes para o tratamento da asma. Exatamente por serem inalados, são corticoides mais modernos e potentes, que podem ser usados em doses muito pequenas. Nessas doses os corticoides inalados são seguros para ser usados em crianças, adultos, gestantes, diabéticos, enfim, quando forem necessários.
O medo dos corticoides vem da ideia dos corticoides ingeridos ou injetados que precisam de doses elevadas para fazer seus efeitos e por isso podem, dependendo da dose e do tempo de uso, ter efeitos colaterais diversos entre os quais o aumento de peso. Isso não acontece com as doses usuais de corticoides inalados.
Os efeitos colaterais mais comuns dos corticoides inalados são locais e, em geral, podem ser prevenidos enxaguando a boca com água após o uso da medicação, gargarejando bem e não engolindo essa água (ou seja, cuspindo a água). Os efeitos locais dos corticoides inalados são rouquidão, pigarro e monilíase oral (sapinho).
Diferenças entre bronquite aguda e asma
A bronquite aguda é geralmente um quadro isolado, sendo a tosse o seu sintoma mais característico. Já a asma é um quadro crônico, com períodos de melhora intercalados com períodos de crise, no qual a dificuldade para respirar e o chiado no peito são sintomas importantes.
Um sinal característico da asma é o sibilo durante a expiração, pois o ar tem mais dificuldade para sair dos pulmões do que para entrar.
A crise de asma pode ser, assim como a bronquite aguda, desencadeada por uma infecção respiratória viral, mas a bronquite não surge espontaneamente, após contato com estímulos simples como poeira ou pólen.
Referências:
– Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
– Iniciativa GINA 2024